quarta-feira, 24 de março de 2010

Nefelibatas.

E o que fazem meus amigos?

querendo sempre aquilo que nao existe. Lindos tolos, que creem na verdade que na sarjeta se decide.
Amam o mundo proprio, irreal. Vivem o mundo, infinito cor de maça, nas suas almas fortes.
Correm o tempo todo, em busca do horizonte sobre o mar.
Meninos anjos que ainda nao sabem amar.
Que nao se culpam por se gostar.
Nao sucumbem aos dias de caos. Se sustentam com a perna do proximo.

Pintam o mundo, em tons de laranja e vermelho, cor de maça.

Isso é o que fazem meus amigos.

vácuo.

Seco. Meu grito é inútil. Minha mente é estanque. Todas palavras que ja me pertenceram, agora simplesmente cospem em mim a todo instante.

Rouco. Espero louco por aquilo que caiba perfeitamente em minha cançao, na cançao de minha vida.

Peço-te pouco, meu deus, peço algo que eu apenas alcance. Quero minha de volta minha alma de iniciante. Minha virgindade quase que pura. Desejo insanidade sóbria, soberania própria.

Ao menos algo que eu sinta, que faça sentir. Qualquer coisa maior que a vida de agora.

Vazio. É por certo aqui dentro, mas ainda melhor que lá fora.


Como eu queria lembrar como se faz um soneto.



mae.

Mae, quem é aquele menino? Me diz mae. Mae daonde ele vem? O que será que ele tem mae?
Mae, me explica o que é viver assim. Sem saber nao da pra entender. O que ele tanto olha? Por que ele chora? Ele tem fome? Ele tem nome? Por que ele mente? O que será que ele tem?

Mae.. voce pode responder..


sei que mentiras também ajudam a viver.

festas pros deuses.

O som do violino corta os ouvidos de todos aqueles ainda donos de sua sanidade.
Palavras jogadas, suadas, gritadas, em meio a todas aquelas pessoas. Pode-se sentir algo por dentro da pele, que excita os pelos, os porques, e os poréns.
Festa dos bebedores de absinto.
Festa dos praticantes voodoo.
Muita luz para o que sinto.
Pouca luz por onde minto.

Malogro. Minha arte.


domingo, 14 de março de 2010

Coffee break.

-Café preto, por favor. Com açúcar.

Pedidos sinceros demais em mesas sujas demais.
Os pequenos que entram pedindo cor pro a realidade de fora.

-vai querer drops, moço?

A existencia do menino azul me incomoda. Meus olhos baixos servem de resposta. O hálito da criança me toca outra vez.

-moço, por favor.

Busco com as maos tremulas uma possivel xicara de café, para um possível gole. Falhei.
Suor já começava a beijar meus lábios secos. Estou nervoso. Num impulso levanto a cabeça de forma brusca, brutal.. vejo dois pequeninos olhos foscos a fitar a tudo e todos. O pequeno se virou também, e para o azar de minha consciencia me viu. Me viu pasmo. E eu o vi. A criaturinha so nao ajoelhava porque nao sabia rezar.

Dei-lhe uns trocados. Ele se foi.



-Café preto, por favor. Sem açúcar.


sábado, 6 de março de 2010

Eunice.

Eunice nao é do tipo de mulher que ama.
Sabe demais da mente humana.
Eunice escreve poemas, dirige em alta velocidade, joga poquer.
Fuma cigarros, pinta as unhas de vermelho, e usa oculos escuros.
Eunice tem intimidade com a cama.

Discute Freud na loja de conviniencia.
Mata moscas com faca.
Inteligencia rara, quase psicopata.
Eunice sabe da Europa.

Joana imita Maria, que imita Sabina, que imita Lurdes, que imita Ana, que imita sua mae, que imita Marilyn Monroe, que imita Eunice, que nao imita ninguem.

Eunice só sai com quem tem.
Eunice é absoluta. Rainha de si.
Eunice é prostituta. Rainha de mim

Ama champagne e pinga.
Tatuou Dionisio nas costas.
Fez faculdade e é feliz.

Eunice nao trabalha, tem dinheiro, tem fama, tem sexo, tem saúde, tem amigos, tem inteligencia, bunda grande, e um Rolex.

Eunice nao precisa chorar.
Eunice nao precisa amar.


Jardins de Regent street.

Estão todos a me olhar, e não há como me esconder por entre as cobertas, pois a cama não é alta o bastante para fugir dos olhos de meus observadores.
Peço a todos que saiam, que me deixem um pouco, e que ao sair fechem a porta. Mudo de idéia pois temo o escuro.. mas então é tarde, há só penumbra e solidão. Ah que vontade de chorar.

Peço alto para que voltem, pois gosto da atenção. Gosto de todos aqueles que por um momento me admiraram. No entanto é tudo em vão. Pedir alto não fará diferença. A porta se mantém fechada. Ainda há penumbra e solidão.

Há penumbra, pois por debaixo da porta há luz. Há solidão, porque todos foram, inclusive eu.

Volto para minha cama para fazer passar o tempo.

desgraças irmas.

Era um homem, do qual o nome nao me lembro, ou se preferires, nao sei como pronuncia-lo. Era nome de gente de fora, com toda certeza. Tinha nos cabelos e barba brancos a idade que lhe cabia. As mãos eram de dedos finos e longos e a face era cansada, no entanto de aspecto feliz, como a do de um jovem em seu gozo juvenil. Tinha olhos concentrados, como os de um gato, sempre fitando o mar, intrigado pela magnitude do companheiro azul. Olhava tao profundo que parecia que havia culpa em sua existencia. Segurava firme sua bengala, como uma companheira, como aquela que nao o via mais. Era seu porto seguro, olhar a lenta cadencia do oceano, as pequenas marolas amadurecendo em perfeitas ondas, e morrendo no limo das pedras, e segurar aquela bengala fria, sem vida, mas cheia de significado.
Nunca foi grande amigo meu, nunca falamos muito, sempre medimos palavras e elogios. Um dia me disse, quase negando minha presença ali: "Eu queria tanto poder viver". Retruquei de imediato: "Eu também".


Ele foi embora pra nunca mais voltar. Nao ia enteder meu apelo, nao ia entender meu pranto, nao ia entender que nossa desgraças eram irmas...


-afinal caes nao falam