domingo, 20 de junho de 2010

violinistar

Andava calado, depois do serviço, os poucos metros até meu apartamento. Para meu júbilo, ao subir a ruela magra, vi ao longe um rapaz. Contudo este não era só, tinha consigo um instrumento de tocar, que por sinal tinha um aspecto no mínimo deplorável. Os rasgos por entre a madeira envelhecida pelo tempo mais pareciam fendas em rochas, sem qualquer alinhamento ou semelhança, pura obra do descuido e desgaste. A cor era castanho, porém as manchas eram evidentes. Cordas novas aquele corpo jamais vira. Sentei-me e tratei de escutar. Tocava a quarta de Beethoven. Permaneci calado.
Eu notava seus traços: eram desalinhados, definitivamente minto se disser de uma beleza ímpar, pois beleza alí não havia. Disforme, entretanto de olhar doce, bovino, como diria o escritor. Seus olhos eram negros (bem como a pele) e não os tiravam nem por um segundo do braço do violino, até o momento que por uma força maior, quem sabe um impulso, ou até obrigação moral puxei alguns trocados do bolso e lhe ofereci, calado. Foi então que o sujeito notou minha presença. Parou delicademente de tocar a música, recusou o dinheiro com a cabeça, e gentilmente me agradeceu com um olhar e um sorriso de dentes amarelos e pequenos, mas de extrema honestidade.

eu que era calado, cantarolei o dia todo.

domingo, 13 de junho de 2010

sujo meu blog.

madame filet mignon

Nos lábios tortos o batom escuro rasga.
Corpo envelhecido, estado: uma lástima.
Sambou em sangue e degraus.
A água da piscina no queixo encosta.


Mas o peso nao afunda, pois nao tinha nada nos bolsos,

nem em lugar algum.
é na hora que a baba engrossa,
que a língua cresce,
que a garganta coça,



que se sente frio.

Ying & Yang

Sao as orelhas da mesma cabeça, que apontam pra lados de diferentes.
Ying e Yang se entendem.
Se acham bonitos.
Acham bonito serem queridos.

Ying e Yang bebem cerveja e champanhe.
Ying e yang rolabolam nas escadarias.
Sobem montanhas e colinas.
Mas ying e yang tem pontas, se ferem na fragilidade do "sem querer".
A vida ama você.

Se mesclam nesse ser estranho, infame.
De um fervor de enx (ou seria ch?)ame.
Vida, me ame.

Hoje eu acordei com certo medo de coincidencias.
Breves perturbacoes, mera audiencia.
Sugaram-se pra um lugar. Qual? o que quiser... desde que seja longe daqui.


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Decifra-me

"Sem essa de que: "Estou sozinho."
Somos muito mais que isso
Somos pingüim, somos golfinho
Homem, sereia e beija-flor
Leão, leoa e leão-marinho
Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão:
Quero viver a minha vida em paz
Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta"

Violinistar

Andava calado, depois do serviço, os poucos metros até meu apartamento. Para meu júbilo, ao subir a ruela magra, vi ao longe um rapaz. Contudo este não era só, tinha consigo um instrumento de tocar, que por sinal tinha um aspecto no mínimo deplorável. Os rasgos por entre a madeira envelhecida pelo tempo mais pareciam fendas em rochas, sem qualquer alinhamento ou semelhança, pura obra do descuido e desgaste. A cor era castanho, porém as manchas eram evidentes. Cordas novas aquele corpo jamais vira. Sentei-me e tratei de escutar. Tocava a quarta de Beethoven. Permaneci calado.
Eu notava seus traços: eram desalinhados, definitivamente minto se disser de uma beleza ímpar, pois beleza alí não havia. Disforme, entretanto de olhar doce, bovino, como diria o escritor. Seus olhos eram negros (bem como a pele) e não os tiravam nem por um segundo do braço do violino, até o momento que por uma força maior, quem sabe um impulso, ou até obrigação moral puxei alguns trocados do bolso e lhe ofereci, calado. Foi então que o sujeito notou minha presença. Parou delicademente de tocar a música, recusou o dinheiro com a cabeça, e gentilmente me agradeceu com um olhar e um sorriso de dentes amarelos e pequenos, mas de extrema honestidade.

eu que era calado, cantarolei o dia todo.